sábado, 23 de maio de 2015

Porque voto em António Nóvoa!


O XIX Governo liderado por Passos Coelho saiu das eleições de 5 de junho de 2011. Resultou da coligação do PSD com o CDS, pois, por si só, nenhum partido teve a maioria absoluta.
As medidas gravosas que logo após os primeiros dias de governação tomou, assentes no princípio de "ir além da troika" em matéria de reformas sociais, foram um choque para a maioria da população.
Os protestos que idênticas medidas suscitaram na Grécia levaram a supor que a contestação social que elas deveriam merecer deixaria o XIX Governo sem apoio muito antes do fim do mandato.
O mote foi dado por Ana Bacalhau dos Deolinda, num serão no Coliseu dos Recreios, no Porto, ainda antes das eleições, a 10 de fevereiro, onde cantou "Que parva que eu sou". A canção fez furor nas redes sociais, captada ao vivo por smartphones, pois ainda não fora gravada.
Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
dizia Ana Bacalhau.
O que parecia um abanão de consciências, um canto mobilizador pelo contrassenso da sua expressão
E fico a pensar,
que o mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração "casinha dos pais",
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou!
revelou-se, afinal, uma profecia cumprida.

O país vivia em efervescência social e a manif do M12M, a 12 de março, um mês depois do canto dos Deolinda, reforçava a impressão mobilizadora. Mais de 300 mil jovens afirmaram, por todo o país, o direito à indignação por serem tratados de "geração rasca".
Nós, desempregados, "quinhentoseuristas" e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.
assim abria o manifesto.
Vieram as eleições e a vitória contrariante da coligação PSD/CDS longe de desmotivar reforçou a convicção de que era chegado um tempo de realização de promessas adiadas desde o 25 de Abril.
Multiplicavam-se as declarações e as afirmações de que um outro rumo era possível, com a discussão de alternativas económicas ao status quo, traziam para a ordem do dia "Duas visões, duas saídas".
De um lado os que insistiam em dizer, como Ferreira do Amaral, que "temos todas as desvantagens de pertencer a uma zona monetária única e nenhumas vantagens, designadamente no acesso a financiamento em quantidade e a baixo custo". Do outro, os que garantiam, como Mário Soares, que "a economia portuguesa tem futuro e tem futuro na Europa".
O manifesto "Para uma nova economia", lançado em 24 de novembro de 2011, condensou essas opostas alternativas com base num denominador comum assente na Constituição.
O ano de 2012 apareceu como o do tira-teimas.
A mega manifestação de 15 de Setembro deixou o XIX Governo à beira da dissolução, com o líder do partido coligado, Paulo Portas, a dizer que as medidas lesivas da TSU não eram da sua responsabilidade.
Que se lixe a troika, queremos as nossas vidas
É preciso fazer qualquer coisa de extraordinário. É preciso tomar as ruas e as praças das cidades e os nossos campos. Juntar as vozes, as mãos. Este silêncio mata-nos.
Pouco depois, no 5 de outubro sempre republicano, encheu-se a Aula Magna da Reitoria, em Lisboa, num movimento unitário de esquerda como deixara de se ver desde 1974. Daí saiu a declaração do Congresso Democrático das Alternativas, que proclamava:
Está demonstrado que políticas de austeridade assentes na punição dos rendimentos do trabalho, no desmantelamento dos serviços públicos e na redução do investimento e do consumo não são solução, são antes um problema grave.
Passo por alto o que foi a gaguez no ano seguinte para concretizar tão excelentes objectivos, por todos subscritos, nesse 5 de outubro.
Houve momentos em que parecia ser ainda possível, como ocorreu na primeira mesa-redonda da Aula Magna, da iniciativa de Mário Soares e onde se reuniram membros diretivos do PS, do PCP e do Bloco de Esquerda. 30 de maio de 2013 e o grande orador da noite foi António Sampaio da Nóvoa, então reitor.
O XIX Governo, contra todas as expectativas, mesmo à direita, levou a legislatura até ao fim. Muito com o apoio da Presidência da República, mas, sobretudo, com a incapacidade das esquerdas em dar sentido à plataforma de unidade na ação.
Num momento em que as eleições legislativas de outubro próximo levam os partidos a focalizarem-se no objetivo de conseguir a melhor representação parlamentar possível, num momento em que o patamar eleitoral da coligação das forças políticas à direita não ultrapassa os 33/34%, e com o somatório dos partidos de esquerda a chegar à fasquia dos 60% o resultado eleitoral deveria prever uma vitória de larga maioria absoluta a uma plataforma de esquerda.
Estou convencido que para essa plataforma se formar é necessário construir uma forte unidade em torno de António Sampaio da Nóvoa, objetivamente o candidato que reúne as melhores condições para ser vencedor e voltar a dar a Presidência da República à ampla maioria de esquerda que os portugueses sociologicamente representam.
Na apresentação da candidatura, António Nóvoa deixou uma dupla mensagem - a da confiança
Dr. Mário Soares - Em 1986, foi difícil, mas foi possível. Dr. Jorge Sampaio - Em 1996, foi difícil, mas foi possível. Em 2016, também vai ser difícil, mas também vai ser possível. Muito e muito obrigado pela vossa presença.
e a da vontade
Dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo. Bebe-se a coragem até de um copo vazio
Disse ele e ninguém duvida
Juntos, podemos fazer a diferença
Creio que para essa unidade cada fio de vontade são dois braços e cada braço uma alavanca.
Vamos a isto!

António Melo (jornalista)


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